sábado, 24 de maio de 2008

Above all clouds...

(Escrito num vôo SPO/REC)

Vejo pessoas, homens, mulheres e crianças voando literalmente junto comigo, numa velocidade absurda, indo talvez pra casa, talvez fugindo dela... Como todos estão juntos, permito-me pensar que por um período de tempo (a duração do vôo) todos compartilham de um mesmo objetivo. Mas qual será verdadeiramente o meu? O que me move, de fato? O que põe-me nas alturas? O que me faz dar rasantes, loops e acrobacias para encantar a platéia e para meu próprio deleite? Não sei ao certo. Não é uma coisa apenas, penso eu, mas um monte delas. Mas essa viagem, esse vôo precisa ser solo para só então, adquirida a destreza necessária, permitir-se acompanhar. Tenho medo deste pensamento, muito embora pareça-me adequado neste momento. Pela segurança. “Senhores passageiros, permaneçam sentados e com os cintos de segurança afivelados, pois estamos atravessando uma área de turbulência”. E que turbulência.

Li numa revista: o animal satisfeito dorme. E vira presa fácil. A inquietação é que move o mundo. O questionamento, a dúvida, o perseguir as respostas, que nunca serão nem absolutamente certas nem tampouco definitivas é mais do que um fim em si, mas talvez mais o que compele o moto-contínuo que é a vida da gente.

Como alguns não conseguem viver esse afã? Como achar-se pronto e acabado? Desprezar todos os filósofos, os que passaram a vida toda pensando e eternizaram-se através do fomento à busca de respostas? Como não deixar-se ser praticamente violentado por todas as coisas, cores, sons e cheiros que habitam esse mundo, mundo, vasto mundo?

Já me chamaram de disperso, viajado, disseram que me perco em elocubrações sem fim, que penso demais, que complico tudo, que não sei ser feliz... Já me disseram tudo isso e muito mais, mas nunca me perguntaram o porque disto tudo. Nem sei ao certo se saberia responder. Mas com certeza teria uma contra-pergunta na ponta da língua: e porque VOCÊ não é assim também?

O caminhar tende a ser bem mais interessante quando se aprecia a paisagem, ruminando as idéias, quando nos damos tempo e espaço para pensar e sentir. E isso é natural, é necessário, obrigatório.

Não ser mais uma alma no arrebol, ser um ser pensante, vivente e "sentinte". Esse é meu caminho, carma e prazer.
(Pensando bem, ao invés de vôo, navegar a dois talvez fosse bem melhor... Quem sabe pelas Ilhas Gregas, apenas com o Mar a embalar e a Luz de um farol a guiar?)

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