quinta-feira, 3 de outubro de 2013

...


meus dias são tristes e temem as noites.
são as horas mais vazias. as mais traiçoeiras.
ficam a espreita, à espera de que se vão os últimos raios do sol, como vampiros...
assim, como o escuro, invade também o silêncio.
nem todos os sons do mundo conseguem vencê-lo na câmara vazia que tornou-se minha alma.

noite alta, penso em você. como fiz o dia todo, também, mas é diferente...
longe das distrações que invento, só ficamos eu, tua ausência e o silêncio..
na pedra fria que um dia foi nossa cama tão acolhedora, jaz alguém parecido comigo, que atende pelo meu nome, mas que não reconheço...
me assusto ao ver essa pessoa num lugar que outrora foi meu. e seu.
tento afugentá-la, mas de nada adianta; ele me diz: "aqui é meu lugar".
tornei-me um intruso para mim mesmo.

o quarto, a casa, as ruas, a cidade.
tua ausência preenche tudo.
e de nada adianta tentar reclamar meu antigo lugar: eu não mais existo para ele como antes.
assim as horas vão passando...

compartilho todas minhas angústias comigo e com esse outro:
é minha única companhia durante as longas noites.
não quero acostumar com sua presença, mas ele insiste em me acolher.
sorrateiro, porém, quando ele dorme, eu sumo. mas não para muito longe...
toda noite, por mais que demore a passar, termina.
e, quando chega de novo o sol, o outro se vai.
não sem antes deixar em seu lugar a tristeza, que me acompanha fielmente ao longo do dia
como que para garantir que eu não fuja; para encontrá-lo, de novo, mais tarde...

o que ele não sabe é que
num desses intermináveis intervalos de horas que dividem os dias
você entrará de novo pela porta da frente de minha vida...
imagino a surpresa dele ao descobrir que todas as noites
fugia para me encontrar com você, te chamando de volta...

quinta-feira, 28 de março de 2013

A impersistência da memória

"Quando se estabelece que algo é apenas esperado, dissipa-se toda e qualquer sensação de surpresa que possa ter sido gerada a princípio."
Harry G. Frankfurt