domingo, 21 de setembro de 2008

O som do sol

Uma vez uma amiga me disse que os cegos sabem a hora, ou se é dia ou se é noite, apenas ouvindo o mundo. Para mim, uma idéia estranha, mas na argumentação dela fui indo, indo, indo até concordar. 

O som dos pássaros, o barulho da rua, estes seriam alguns dos referenciais por eles utilizados. Então pensei: por quê não também o barulho do sol? Pois para mim o sol tem som, desde criança penso nisso. Não apenas o sol, pensando bem. Qualquer luz, de maneira geral.

E nada de pensar no movimento onda/partícula da luz, não ir assim tão longe. Sentir, mais que ouvir. Como a gente sente o amor de alguém por nós. Ele vibra tanto, mas tanto, que acaba gerando alguma forma de energia que potencialmente pode, também por sua vez, produzir alguma espécie de som.

Desculpem pela viagem, mas junte muitas horas insones em um aeroporto com saudades diversas, ausências enormes, sentimentos avassaladores e têm-se espaço para elocubrações deste porte. Afora isso, juro que sempre pensei no barulho do sol...

domingo, 14 de setembro de 2008

Para uma canção, talvez...

Quem acredita na paixão
Ou no destino pro coração
Encontrar sossego ou resposta
Vive perdido, na ilusão
Porque o sonho traz consigo
O desejo, o impossível
Que turva, e abre caminho
Para a solidão
Não, não tente mirar no amor
Pois ele é pássaro
Mal o achamos e já voou
Deixe o destino dos outros
Seguir seu rumo em paz
Não negue sua cruz, nem suas penas
Somente siga em frente sem olhar para trás

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Paranampuca

Estou apaixonado pelo baixo acústico (double bass ou "dog house", pros norteamericanos). Há varios anos penso em adquirir um, no entanto, faltava-me algumas coisas, além do dinheiro para tal. O principal era a concepção de que eu necessariamente não tinha a obrigação de ser um virtuose (estou muito longe disso) e que seria "digno" de ter/tocar um...

Complexos superados à parte, estou na fase onde mais me divirto, ou seja, a da descoberta. Coisas da paixão.
Estou lendo coisas, estudando, descobrindo, me encantando. Principalmente porque comprei o instrumento em São Paulo há um pouco mais de quize dias e nada dele aportar nesta minha terra maravilhosa, quente e úmida.

Ah, meu Pernambuco... Paranampuca, estudei no primário, era a origem tupi do nome de minha terra. Significa “mar que quebra na pedra”. Terra musical, que o nome já entrega pelo "chuá-chuá" sincopado, hipnótico e incessante que embala e seduz ao longo de toda a costa.

Terra de gente musical. Tá no sangue, não tem jeito. É frevo, é maracatu, é caboclinho. Tem até bumba-meu-boi, que dividimos a paternidade com os nossos amigos maranhenses (se bem que caso fosse possível fazermos um teste de paternidade, esse menino seria nosso por afinidade e criação...).

Pois bem, juntando as duas pontas, descubro em minhas pesquisas que a madeira que normalmente é utilizada para a confecção do arco utilizado para gerar aquele som maravilhoso nos instrumentos da família das cordas nas orquestras é o pau brasil. Mas o melhor vem agora: sabe como o pau brasil é bem conhecido lá fora? Pois se acertar vai ganhar uma caixa de Xaxá de Banana: Pernambuco! Isso mesmo.

Quando o assunto é arco, é a melhor madeira. Inclusive, o nominho chega fica doce na boca de gringo quando fala que "the ebony joins with the pernambuco" no arco. Assim mesmo, em minúscula. Nome técnico, mas com jeito carinhoso, feito "nega".

O negócio é tão sério, que existe até ONG nos Estados Unidos para preservar o pau brasil, digo, o Pernambuco: International Pernambuco Conservation Iniciative. Se duvida, vá conferir no site.

Pois é... Eu que sempre considerei-me um ser enraizado, quem diria que meu Estado estaria tão mais próximo de mim, nas minhas mãos para fazer uma música que sempre esteve em minha cabeça e nos meus sonhos...

Saio daqui não, seu Zé. E quem for sabido, que volte pra esta (sua) terra!