domingo, 29 de junho de 2008

O caminho e a perda (ou o medo dela)

Tenho lido sobre o budismo, minha nova paixão, dentre tantas... A do momento. Ele tem uma coisa de libertária que me cativa. Bate comigo. Muito embora vários conceitos neste momento me escapem a compreensão, algo me diz que estou mais perto de encontrar algumas respostas nele...

Ele fala muito da gente enquanto energia, parte de um todo, em constante mutação, inteiros num grande fluxo universal. Daí o conceito de morte passa a deixar de ter o sentido que normalmente nós ocidentais de maneira geral atribuímos.

Mas o medo da perda é devastador. Não me imagino um dia conseguindo livrar-me destes grilhões...

De todas elas. Das menores, até. Das diárias. Das grandes, enormes, como a de perder quem a gente ama. Essa de longe é a pior de todas. Tenho muito medo de perder quem amo. Rezo muito para que isso não ocorra, principalmente agora. Meu mundo iria ficar vazio demais. O meu e o de um monte de gente, é bem verdade...

Mas o consolo de sempre é saber que tudo no final acaba bem. De um jeito ou de outro... E que as coisas são sempre como devem ser, muito embora a gente nem sempre concorde com o rumo que as coisas na vida tomem.

sábado, 28 de junho de 2008

...

Apregoam por aí certas "verdades", tal como a palavra cansar. Palavras não cansam, nem mesmo os ouvidos cansam de ouví-las se elas vem com o intuito de construir e são revestidas de sinceridade. Palavras ferem, maltratam, magoam. Mas não cansam. Não ficam velhas, não desbotam. Não são tecido, e ao mesmo tempo tecem os relacionamentos, as vidas das gentes por este mundo...

Eu já quis matar a palavra. A palavra quase morreu, ou viveu combalida no máximo, em virtude desta tentativa de assassinato. Mas ela sempre se renova. É dotada desta capacidade de regeneração fantástica tal como certos animais. A palavra é um animal. Indômito, irrefreável, mas não cansa. Não deveria, ao menos.

Hoje disponho da palavra apenas. Nela me escudo, por ela vivo e nela me traduzo mais do que verdadeiramente me defino. Não sei se será sempre assim. (Serei eu sempre assim?) Mas não me calem a palavra. Não me tirem o gosto doce dela, que gira em minha boca como uma bala de cravo, ou de canela...

À frente nem todos os papeis, telas de computadores, teclados ou qualquer outra forma de registro será capaz de abrigar todas as palavras que virão. Nem mesmo eu sei se serão elas tantas... Imagino que sim. Algumas novas, outras nem tanto, mas seu significado tende a mudar, mesmo nas já tão bem conhecidas.

Não falo em um libelo de renovação total, mas antes, um verdadeiro apego à palavra enquanto expressão máxima das coisas que a mim são determinantes. Algumas palavras, porém tem um peso imenso: "só", para citar apenas uma. Seu significado, sua transcendência não me fixa, não consigo meter minhas mãos nela (a palavra) e revirar suas vísceras como um açougueiro displicente e apressado. Não tenho pressa, mas não vivo bem o só.

Tudo vem cada vez mais e mais como uma expressão última de busca do verdadeiro sentido, uma etimologia da alma, alicercada pelo amor à palavra, pela devoção a mesma. E pela vontade extraordinária e piromaníaca de imolar-me. Arder, arder até não mais poder. Queimar, ver-me reduzido a cinzas, mas ver-me nelas e de maneira muito mais forte do que antes, enquanto matéria palpável e de forma aceita.

Não busco a paz. Amo a desordem, o caos. Mas o tranquilo me aninha e me faz ver que ambos são necessários. Estar só e não ao mesmo tempo. Isto poderá ser compreendido/partilhado? Não sei... Não quero saber agora. Não é o momento. E volto para a palavra, e a da vez é solidão. Mas uma solidão safada, calhorda, convivida. Cômoda, em última instância.

Mas como criticar a pequena ave no ninho, ou o carro no pátio da auto-escola nas mãos de um adolescente trêmulo? Potesta, potesta. O poder. O poder de mover, a energia recolhida, o potencial querendo virar cinético. Quem há de criticar isto? Mas paciência... É chegada a hora. Mas este "só" me acaba... Mas tem que ser. Mas não quero. Mas tem que ser. Mas tento fugir dele. Mas...

Vejo agora que nem todas as palavras me são suficientes. Em algum tempo, era a vontade de demonstrar uma pseudo-erudição. Hoje ela vem na necessidade de traduzir sentimentos. Mas pensando bem, por que fazê-lo? A palavra neste instante não acaba tornando-se um mero "cavalo" de mim para o mundo exterior? E eu preciso, ao menos agora? Talvez não. Mas a sensação de um segredo que precisa ser compartilhado, uma boa-nova inaudita me persegue. Mas devo resistir.

Ao mesmo tempo, posto ou não posto, eis a questão. Vão me ver, podem me ler, podem tentar até me intuir. Mas eu não estou aqui. Apenas minhas palavras. As mesmas, as de sempre, as tão valiosas, as que nunca cansam, mas que não dizem nada. Ao menos, neste momento, não me deixam dizer BEM ALTO o que eu realmente desejaria. Então, abuso delas, bolino-as sem o menor pudor, recato ou consideração.

Mensagens subrepitícias: elas acabaram, as palavras, servindo apenas para isto, agora. Que seja. Que leia. Que entenda (ou não). Mas que, por tudo o que se vive, não deixe a palavra partir. Ou cansar...

Shhhh....

Não me dê estas vestes
Negras
Recuso-me ao luto.
Vestir-me-ei sim, mas da brancura dos lírios da noite
Pois minha pele despida arrepia neste frio
Minhas mãos crispam-se e agarram-se ao ar. E arranham até chegar ao osso.

O ser liberto sabe não se quer o toque firme de mãos que mais soltam que aprisionam.
O sentir pensado dualmente vê-se minguante.
Natimorto, não descansa fácil
Ungido nas espumas da esperança
Do vir-a-ser.

Cale-se a noite,
Cale-se o mar,
Cale-se a luz,
Cale-se a dor,
Calem-se todos e ouçam a melodia que quase sussura, flutua pelo ar e atinge como seta
Mas não fere
Porque não deve. Não pode...

As coisas mais belas moram no silêncio.

sexta-feira, 27 de junho de 2008

Brustschmerzen

...e essa dor no peito que não cessa...

Tem umas músicas que sempre deixam a gente feliz, ou triste. Sem nenhum motivo aparente, apenas pela beleza intrínseca. Feito essa:

Ela une todas as coisas
como eu poderia explicar
um doce mistério de rio
com a transparência de um mar ?

Ela une todas as coisas
quantos elementos vão lá …
sentimento fundo de água
com toda leveza do ar

Ela está em todas as coisas
até no vazio que me dá
quando vejo a tarde cair
e ela não está

Talvez ela saiba de cor
tudo que eu preciso sentir
Pedra preciosa de olhar !
Ela só precisa existir
para me completar

Ela une o mar
com o meu olhar
Ela só precisa existir
pra me completar

Ela une as quatro estações
Une dois caminhos num só
Sempre que eu me vejo perdido
une amigos ao meu redor

Ela está em todas as coisas
até no vazio que me dá
quando vejo a tarde cair
e ela não está

Talvez ela saiba de cor
tudo que eu preciso sentir
Pedra preciosa de olhar !
Ela só precisa existir
para me completar

Ela une o mar
com o meu olhar
Ela só precisa existir
pra me completar

Une o meu viver
com o seu viver
Ela só precisa existir
para me completar

("Ela une todas as coisas", de Jorge Vercilo e Jota Maranhão)

(Re)Gênese

...na beira do mundo, esperando, adivinhando chuva, muita...

quinta-feira, 19 de junho de 2008

E...

E queria escrever crônicas. Ou melhor, quero. E vou. Mas antes preciso olhar mais os olhos das pessoas que passam apressadas por mim (ou quem sabe, diminuir meu próprio passo para vê-las melhor).

segunda-feira, 16 de junho de 2008

Lampreia

Assuma sua natureza, arrisque se largar, ache seu caminho e consuma a si mesmo até o fim.

quarta-feira, 11 de junho de 2008

O Grande Exército

E assim, pouco a pouco foram juntando-se as hordas. Vindas de tribos distantes, outras nem tanto. Quase todas falavam a mesma língua, muito embora algumas praticavam ritos estranhos, pois mal falavam e comunicavam-se quase que exclusivamente através daqueles. Umas poucas, essas vindas de terras realmente longínquas, falavam uma espécie, cada qual a sua, de dialeto que só conseguiam ser compreendidas entre os seus, dificultando sobremaneira a integração ao Grande Exército. Com relação aos costumes, estes então dir-se-ião ainda mais diverso e multifacetado. Mas de forma quase que milagrosa, todas as diversas hordas conseguiam, ao seu modo bem peculiar, unir-se em torno e em direção do que se convencionou, após várias e várias batalhas como o Fim.
Vez por outra, é bem verdade, surgiam aqui e acolá pontos de insurgência, pequenos motins, mas que normalmente eram debelados, ante à força opressiva da maioria. O que ocorria, de maneira quase que reiterada era durante a Grande Marcha divergências ferrenhas, muito violentas, quase destrutivas – quando não o eram enfim, em última instância... – e que obrigavam as hordas a mudarem suas estratégias, reagruparem-se e por fim, mudar o curso, sem no entanto – e isto é a parte mais intrigante quando analiza-se o Grande Exército – alterar-se o Fim...
Volte e meia, algumas tribos mandavam novas hordas para substituírem as que as representavam, por motivo que só mesmo eles poderiam explicar ou entender. O fato é que esta alteração invariavelmente conseguia dar novos ares ao Grande Exército, mas após algum tempo, como haveria de ser, tudo voltava a ser igual a como era antes: o frescor nada mais era que passageiro. Mas nem por isso, menos necessário. Grupamentos destacados dentro das fileiras do Exército tinham representantes que comandavam as discussões, lideravam enfim. Mas com uma característica bastante interessante de serem formados de modo transgrupal.
Quanto às táticas de guerra, o Grande Exército não diferia dos demais exércitos. Sua principal estratagema era a da terra arrasada: tomavam de assalto o vilarejo, possuiam todas as mulheres, consumiam todos os mantimentos disponíveis e, ato contínuo, após fartarem-se de tudo o quanto fosse humanamente possível, partiam em busca de novas paragens, não sem contudo atear fogo em toda a vila, de modo que nada mais pudesse ser aproveitado ou cultivado; nada restava salvo sal e cinzas.
Mas tamanha força era ao mesmo tempo uma das grandes fraquezas do Exército, pois devido ao seu tamanho, arcava com o ônus deste gigantismo auto-imposto prestava-lhe o enorme desfavor de fazê-lo crer ser indestrutível. Como isso nunca era verdade, as baixas invariavelmente tendiam a ser proporcionais ao seu tamanho. Por vezes até, julgava-se que ele iria implodir por assim dizer, simplesmente deixar de existir. Mas talvez esse fosse o grande trunfo dele, ou seja, o de fazer com que todos pensassem que de tão combalido não teria outra alternativa que não dispersar suas fileiras: eis que surgia sempre e sempre, renovado, diferente mas igual.
Pergunta-se sempre qual foi o fim do Grande Exército, se ele teria atingido o Fim, conclusa a Grande Marcha. Não se sabe... Ele simplesmente desapareceu em algum lugar do tempo, alhures. Apenas sabe-se de sua existência pelas marcas deixadas ao longo do caminho e da história. Ele sempre será venerado, conhecido por vários nomes, dentre os mais conhecidos Amor, bem como sua Marcha a Vida. E o Fim? Ah, o Fim... Este parece ser um desconhecido e impronunciável nome feminino...

domingo, 1 de junho de 2008

De outro blog (clique aqui para conhecê-lo)

"De forma temporária, a insanidade veio sem ser chamada e gri­tou: 'Entre, a porta está aberta.' Por sorte, a Realidade chegou ines­peradamente em casa e encontrou a Insanidade Temporária vagando livre pelos corredores da minha mente, entrando nos quartos, abrin­do armários, lendo minhas cartas, espiando dentro de minha gaveta, esse tipo de coisa. A Realidade correu e chamou a Sa­nidade. Depois de uma briga, ambas conseguiram expulsar a Insa­nidade Temporária e bateram com a porta na cara dela. A Insanidade Temporária agora está caída em cima do cascalho da estrada de aces­so da minha mente, arquejando, furiosa, e gritando: 'Ela me convidou para entrar, sabem? Ela me convidou. Me queria lá.' "

Considerações sobre o belo e o espírito das palavras

O que é belo o é em si? Consegue encerrar, ser começo-meio-fim prescindindo de ver-se avaliado? Ou necessita do outro, da visão do outro para tornar-se belo, no sentido amplo? Uma escultura de Gauguin, um quadro de Dali ou uma flor são intrinsecamente belos, é sabido. Mas o que os torna de fato, ao meu ver, belos são nossos olhos, como os vemos. De que adianta o belo esmerar-se em encantar e seduzir se ele não consegue ser um objeto de adoração? O que é o bonito sem o "ver o bonito"?
Essa coisa da beleza me persegue há anos. Sempre busquei um belo, mas essa busca quase insana por um esteticamente irretocável me fez deixar de ver as minúcias das quais as coisas belas alimentam-se. No fundo, tudo pode ser belo; basta um olhar sob o ângulo preciso, com a luz - essa maldita luz - apropriada e tem-se a beleza capturada e pronta para assimilação em e de sua plenitude. Mas esta expressão imagética que se imprime na retina, vira sinal a percorrer o nervo óptico até o cérebro que nos faz ver que "ela é tão bonita que na certa a ressussitarão" consegue de fato ter todo esse poder? Essa re-gênese do belo e fez começar a escrever estas coisas agora: uma imagem arquivada na cabeça que, ao simples ato de ser rememorada, consegue ter a força de mil mares tomados de fúrias assassinas, agitados pelo signo das intempéres e dos furacões.
De certa forma, pensando por este lado, de que me vale ter o mais belo em mim se não é visto, admirado, brincado de encanta-moça? E que belo seria esse? Talvez para expressá-lo fosse necessário buscar na etimologia da palavra definitiva nascida da língua criada ao se fundar uma Nova Germânia, onde se possam unir palavras sem-número para conseguir sintetizar um sentimento, porque talvez as palavras que existam não sejam suficientes para tal.
Enfim, o belo em mim e fora de mim - pelo mundo, entre salares e asfalto orvalhado - precisa de mim, precisa de ti para ser mais belo, no mínimo. Sem esta chance, o que é belo torna-se apenas... belo! De que serventia tem o belo em si? O belo quer ser belo-belo, quero-quero (ah, se quero...): Vida noves fora zero, né Bandeira?