terça-feira, 10 de maio de 2011

Arrebol

Nem só almas perdidas
Vive o mundo em seu giro
A espalhar.

Vez por outra, quando em vez,
Formam pares
E juntas caminham...

E nesse trajeto,
Cedo ou tarde (nem tanto um, nem tanto outro)
Dá-se o despertar:
de coisas boas de sensações de descobertas de afetos paixões germinais amores.

Unidas,
Densas porém leves,
Em busca de compreensão
voam alto, confundindo-se com o rubro entardecer.
E esperam, pacientes,
Repousar tão logo a tarde caia,
temendo a noite,
mas com a clara esperança
pelo dia que virá.

Onde tudo o que é novo e assusta
Transmutar-se-á em paz para todos os corações.


quinta-feira, 5 de maio de 2011

Poema Inocente

És como a ponte na estrada
Do caminho que sou eu no teu.
Atravessá-la para chegar onde o desejo pede
É também voltar(-me) ao que nunca passa(rá).
Indo e vindo,
Ora vindo, ora indo...
Construindo, na arquitetura dos afetos,
Uma bela cidade com ruas circulares.

domingo, 1 de maio de 2011

Mundo que move... (O Inaudito)

Ao longe, o teu silêncio
Que tanto fala.
As palavras, sempre tão necessárias,
fazem-se entender que o que cala grita...
No teu prazer, no teu sorriso, em teu ouvir sereno
Completo.
Enfim, completo-me.
Aprendo que o que mais fala não vem pela boca,
Pelo dito.
Silêncio que preenche todas as lacunas
Porque o som, tão necessário, de fato
Inexiste nos momentos mais puros.
Um olhar, um riso, basta.
Em si.
Aprendendo a ouvir o silêncio,
Percebo o que de fato, realmente importa:
O querer bem.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

"E se?"

Sou grande
Sou pequeno
Sou do tamanho que cabe
num coração.
Miudinho, assim, coisa à toa;
Enorme. Gigante. Sem ser espaçoso.
Na medida exata dos sentires, dos quereres e de tudo,
enfim,
que puderes.

terça-feira, 19 de abril de 2011

De precipícios, vielas escuras e dias de sol

Amar.
Amar não, se apaixonar.
Andar em bicicleta feita de nuvens: a gente nunca esquece como se faz e sempre com uma leveza indizível, mas sempre lá do alto. A um pequeno passo para a queda. Mas nem, nem...
Nosso querer é maior, nosso desejo suplanta e supera tudo. Quem há de entender-me se nunca se apaixonou verdadeiramente? Aquela, visceral, quase irresponsável, no sentido mais estrito possível.
Os dias passam por ruas escuras, às vezes... Estreitas, que nos obrigam a endireitar bem a coluna e nos espremer para poder atravessar o caminho. Passam os dias, passam os passos, e em algum momento, vê-se sol novamente.
E lembramos que tem céu, e que tem nuvens, e que delas, dá sempre pra fazer uma bicicleta.
É só ter disposição.
E sorte.

domingo, 10 de abril de 2011

Duplas trocas (ou Como ver que entender um pouco mais as relações humanas pode acontecer numa aula de Química. Ou Português)

Dia desses eu estava conversando com uma amiga no msn e ela me saiu com o seguinte:

"as pessoas, as coisas...q passam pela vida da gente... levam alguma coisa de nós e deixam alguma coisa delas"

Parei. Melhor, travei... Da melhor forma possível, puxando o freio de mão para poder ruminar sobre o que ela havia escrito. Uma frase que pode, agora, fora do contexto da conversa que rolava, parecer até meio óbvia. Nunca banal. Nem muito menos tão "óbvia" assim...

Ser pensante que sou, me permiti pensar sobre aquilo e na hora me veio de imediato à mente a lembrança de uma aula de química, sobre duplas trocas. E decidi pesquisar a respeito. Fiquei de cara... Primeiro por descobrir que essas trocas também atendem pelo singelo nome de metátese. Conceito que também existe na linguagem, quando "uma palavra muda a ordem das letras, para facilitar a articulação da mesma". Muda para ficar mais fácil; muda para ser o mesmo. Como em "contrairo" (português arcaico) que transformou-se em "contrário"...

Mergulhando um pouco mais na química, me dou conta de que as relações de dupla troca ilustram exatamente o que minha amiga havia dito, pois na Química (assim como nas relações humanas, em especial as afetivas), dois compostos reagem, permutando entre si dois elementos ou radicais, gerando dois novos compostos...

Borges disse que “só aquilo que se foi é o que nos pertence.” E assim, misturando tudo, no meu processo alquímico pessoal, coloco tudo num cadinho, e observo como essas coisas reagem dentro de minha cabeça, me tornando mais capaz de entender melhor a mim mesmo e aos outros.

Nada fica perdido no ar, nem nas brumas do passado. Temos a sensação/esperança que algumas coisas ficarão para sempre dentro de nós, e nos decepcionamos em parte quando nos damos conta de que a vida se encarrega de transformar, às vezes a custa de muito sofrer, coisas "eternas" em "meros" momentos vividos. A sombra da desesperança ameaça pairar por sobre nossos sonhos e momentos maravilhosos vividos, que lutamos para que se eternizem, o que é impossível.

Mas, justamente no auge desse sentimento, a idéia de que as coisas nunca vão de fato de dentro de nós (ou se vão, deixando suas marcas, conscientemente ou não) surge como um alento, dando novas perspectivas.

Não quero fazer com isso nenhuma apologia à descartabilidade dos desejos mais profundos, dado a inevitável condição de impermanência das coisas. Não. Mas entender que as coisas acabam, e delas fruir tudo, até a última gota, sabendo agora que elas vão estar sempre, de alguma forma incutidas na minha essência, a partir justamente do momento da partida - pois o processo só se finda e realiza com essa "decomposição/recomposição" - torna a vida algo mais palatável...

Viver intensamente tudo, sem ser inconsequente, em especial no campo afetivo, é necessário. Mesmo que perigosamente flertando com a pós-moderna vida líquida de Bauman. Mas, no fundo, não há nada mais sólido e moderno do que aceitar as coisas que nos chegam e (re)conhecer nelas algo que nos modifica e pode nos tornar melhores, na exata medida que queiramos que isso aconteça. Interpretar o mundo dessa forma ajuda a aceitar melhor as partidas (sem jamais deixar de vivenciar os lutos necessários); a lidar com as frustrações por não conseguirmos manter nada de que realmente gostamos de modo permanente na nossa frente, pois se mesmo uma simples pergunta nos faz pensar que ao ser respondida, já perdeu toda a essência, pois como Rosenzweig afirma "a resposta é dada por uma pessoa inevitavelmente diferente daquela a quem foi feita a pergunta, e ela é dada a alguém que mudou desde que perguntou. É impossível saber a profundidade dessa mudança"...

Diante de tanta volatilidade, o que nos resta é viver. Muito. Agora. E esperar que o tempo, velho senhor de todas as coisas, nos mostre o que de fato ficará no balanço final de todas as coisas vividas.


sexta-feira, 1 de abril de 2011

Todo pasa...

Por maior, mais intenso, mais visceral, mais verdadeiro, mais mágico, mais encantador, mais sincrônico, mais desejado, mais planejado, mais sublime, mais querido, todo amor passa.

A viver entre "não se afobe não" e "uma pedra no meu peito", as pessoas vão seguindo seus caminhos.

E elas nunca desistem e lançam mão, ocasionalmente, do recurso da memória, ou melhor, da falta dela.

Adiante!

quarta-feira, 30 de março de 2011

Parada Obrigatória (ou "Não é que é bom ficar só, ao menos um pouquinho, às vezes?

Nada como sentar-se à calçada, parado
E ver a cidade passar
O tempo passar...
Deixar escorrer pela garganta, o gole
Da bebida
Pelas narinas, a fumaça
Do trago
Dos carros, motos
E as ambulâncias com suas sirenes sonoras
Completando os sentidos
Misturando ao som o asfalto que responde
O passar deles.
Que preenche o silêncio das noites vazias,
Das mentes que gritam fazendo calar
O (ab)surdo dos pensamentos todos...
(Realidade em suspensão)
Onde tudo o que se move
Segue o ritmo desse frenesi.
Quando "estar só" não existe
Porque não nos sentimos a sós ante a tanta vida,
Que pulsa,
vibra,
geme e canta.
Não cabem aqui, agora, sentimentos tais como algum que lembre desamparo
Com toda essa sensação de leveza e torpor desafiando o caos...
E sozinho (É, sozinho!)
E em paz, na mais absoluta paz
Enfim.
A mão corre solta, mole, emprestando ao papel sensações.
- Nada como estar vivo e poder sentir e
Traduzir
Tudo isso.
(Amanhã? Trabalho!
Hoje, não mais)
...
Noites assim lembram porque os dias insistem em existir, fingindo repetições.
Noites assim fazem tudo valer a pena:
as dores, as angústias, os sofreres...
Porque amar a noite, noites assim,
É celebrar no mais profundo nível
A vida.
"E la nave va..."

domingo, 27 de março de 2011

Déjà vu

Já reparou que tem pessoas no mundo que irradiam uma certa mistura de carisma, beleza, mas principalmente charme quase irresistível, que atraem sem falar e se falarem, muito pior e nem percebem isto?
Acho que aquela música foi feita pra elas: "tu pisavas nos astros distraída..."

quinta-feira, 24 de março de 2011

"Found in translation"

...não, não me assusto: teu amor é um verbete do meu dialeto.

terça-feira, 8 de março de 2011

Geografia

A felicidade é um Estado imaginário. A tristeza também. Assim, mesmo estando num deles, é sempre possível viajar para outro, mesmo que seja de férias. Mas decida morar no correto. E dê-se conta que você é um País.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

"...e é, né?"

Há um tempo atrás, estive em uma palestra num centro espírita, levado pela mão carinhosa de uma grande e amada amiga. Lá, ouvi do palestrante uma releitura da oração de São Francisco, que me deixou sem chão...

Indo de encontro ao que se tem quase que como uma "mantra" nacional, o "é dando que se recebe", a pessoa mostrou, que diferentemente da interpretação superficial, materialista e do caráter "utilitário" que se dá a esta frase, na verdade o que se ganha em troca de algo dado não é a coisa em si, mas a possibilidade de exercitar a capacidade de dar-se algo.

Isso me fez lembrar a visão budista da esmola, onde quem dá é quem agradece. Faz-se isso porque entende-se que nesse momento a possibilidade de ajudar alguém é o que desperta em nós o que de melhor existe lá dentro, um desapego que evidencia o quanto podemos ser bons, o quanto é bom ajudar.

Tenho vivenciado isso, ou melhor, reparado mais nisso. Por que está tudo aí, na nossa frente, à nossa volta mas nem sempre temos "olhos para ver".

Não que esteja no caminho da beatificação (não mesmo nem tenho essa pretensão), mas nos purgando de umas coisas conseguimos enxergar a real dimensão de outras, e principalmente, de nós mesmos.

Depois de pensar um bocado a respeito do que ouvi naquele dia (e já se vão quase dois anos), consegui sintetizar o sentimento desperto em mim numa só frase, o que chega a ser engraçado pois minha prolixidade e a dificuldade de exprimir o que tudo aquilo me revelara era muito grande, só conseguido ser transposta com o uso de muitas, muitas palavras:

É dando-se que se recebe.

Um pronome oblíquo átono, uma ênclise, uma epifania, uma mudança radical na forma ver e estar no mundo.

Talvez eu tenha demorado demais (e bem mais do que os tais 2 anos). Talvez eu tenha perdido tempo, chances e pessoas demais. Mas nunca é tarde. E não será. Mesmo.