quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

"...e é, né?"

Há um tempo atrás, estive em uma palestra num centro espírita, levado pela mão carinhosa de uma grande e amada amiga. Lá, ouvi do palestrante uma releitura da oração de São Francisco, que me deixou sem chão...

Indo de encontro ao que se tem quase que como uma "mantra" nacional, o "é dando que se recebe", a pessoa mostrou, que diferentemente da interpretação superficial, materialista e do caráter "utilitário" que se dá a esta frase, na verdade o que se ganha em troca de algo dado não é a coisa em si, mas a possibilidade de exercitar a capacidade de dar-se algo.

Isso me fez lembrar a visão budista da esmola, onde quem dá é quem agradece. Faz-se isso porque entende-se que nesse momento a possibilidade de ajudar alguém é o que desperta em nós o que de melhor existe lá dentro, um desapego que evidencia o quanto podemos ser bons, o quanto é bom ajudar.

Tenho vivenciado isso, ou melhor, reparado mais nisso. Por que está tudo aí, na nossa frente, à nossa volta mas nem sempre temos "olhos para ver".

Não que esteja no caminho da beatificação (não mesmo nem tenho essa pretensão), mas nos purgando de umas coisas conseguimos enxergar a real dimensão de outras, e principalmente, de nós mesmos.

Depois de pensar um bocado a respeito do que ouvi naquele dia (e já se vão quase dois anos), consegui sintetizar o sentimento desperto em mim numa só frase, o que chega a ser engraçado pois minha prolixidade e a dificuldade de exprimir o que tudo aquilo me revelara era muito grande, só conseguido ser transposta com o uso de muitas, muitas palavras:

É dando-se que se recebe.

Um pronome oblíquo átono, uma ênclise, uma epifania, uma mudança radical na forma ver e estar no mundo.

Talvez eu tenha demorado demais (e bem mais do que os tais 2 anos). Talvez eu tenha perdido tempo, chances e pessoas demais. Mas nunca é tarde. E não será. Mesmo.