Indo de encontro ao que se tem quase que como uma "mantra" nacional, o "é dando que se recebe", a pessoa mostrou, que diferentemente da interpretação superficial, materialista e do caráter "utilitário" que se dá a esta frase, na verdade o que se ganha em troca de algo dado não é a coisa em si, mas a possibilidade de exercitar a capacidade de dar-se algo.
Isso me fez lembrar a visão budista da esmola, onde quem dá é quem agradece. Faz-se isso porque entende-se que nesse momento a possibilidade de ajudar alguém é o que desperta em nós o que de melhor existe lá dentro, um desapego que evidencia o quanto podemos ser bons, o quanto é bom ajudar.
Tenho vivenciado isso, ou melhor, reparado mais nisso. Por que está tudo aí, na nossa frente, à nossa volta mas nem sempre temos "olhos para ver".
Não que esteja no caminho da beatificação (não mesmo nem tenho essa pretensão), mas nos purgando de umas coisas conseguimos enxergar a real dimensão de outras, e principalmente, de nós mesmos.
Depois de pensar um bocado a respeito do que ouvi naquele dia (e já se vão quase dois anos), consegui sintetizar o sentimento desperto em mim numa só frase, o que chega a ser engraçado pois minha prolixidade e a dificuldade de exprimir o que tudo aquilo me revelara era muito grande, só conseguido ser transposta com o uso de muitas, muitas palavras:
É dando-se que se recebe.
Um pronome oblíquo átono, uma ênclise, uma epifania, uma mudança radical na forma ver e estar no mundo.
Talvez eu tenha demorado demais (e bem mais do que os tais 2 anos). Talvez eu tenha perdido tempo, chances e pessoas demais. Mas nunca é tarde. E não será. Mesmo.