domingo, 6 de setembro de 2009

"No mínimo, ou mais..."

Longo tempo ausente, questões por demais para resolver.

Algumas inconclusas, outras resolvidas, mas em última análise, uma certeza: não vale a pena se preocupar demais com tudo.

Vamos voltando, aos poucos...

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Começando bem...

Mantendo minha palavra, escrevo.

Mas a cabeça dói, tanta coisa, tanta coisa nela....

Pensando bem, escrever ajuda.

Missão cumprida!

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Na lida

Raimundo Carrero diz que deve-se escrever todo dia. Ele faz isso. Funciona. Com ele, ao menos. Mas, como duvidar sempre é bom, eis-me aqui novamente.

Penso que escrever realmente pode e deve fazer parte do cotidiano, algo como beber água ou olhar pessoas na rua. Mas, diferentemente destas outras coisas, existe um objetivo a ser alcançado nessa prática: o refinamento de idéias, a perda da vergonha, a busca pela identificação estilística, e principalmente, aprender uma maneira de estrutrar os pensamentos e descobrir a melhor forma de torná-los parte do mundo dos outros.

Não sou teórico a respeito e pra falar a verdade, muito pouco sei sobre qualquer técnica ou recurso literário. Nunca li um manual sequer, minha gramática é restrita à logica e baseada no que li (menos do que deveria, é fato) até esse ponto da vida. Mas, acho que dá pro gasto - pelo menos pra onde me encontro e considerando proporcionalmente o enorme alcance de tudo que escrevo hoje, limitado...

Escrever é acreditar no pensamento. Mais do que acreditar nas próprias idéias para si mesmo e fomentar as mudanças e atitudes com relação ao mundo, o registro dessas idéias num papel ou num ambiente virtual é um desafio tremendo, par mim. É despir-me de traumas, de medos e assumir posturas que podem ser lidas repetidas vezes e questionadas desde a colocação das vírgulas ao conteúdo efetivo proposto. É dar uma foto da cara à tapa.

Descobrem-se limitações, repetições, âncoras, palavras amigas que acompanham a gente tal como cão de rua ao mínimo agrado... Vê-se a necessidade de ler mais, de falar mais, de expôr mais. A busca do conteúdo fica mais patente. E, grande surpresa, constata-se que já TEM-SE um conteúdo. E assim vai por terra (ou ao menos dá-se um bom knockdown) mais uma insegurança.

Detesto rotinas, coisas repetitivas e principalmente imposição. Mas como Seu Carrero disse e eu sendo como sou, tomeisticamente voltarei por aqui amanhã.


domingo, 12 de julho de 2009

Volver a los 17....

Não importa: 20, 38, 56... Qualquer que seja sua idade cronológica, quando se está apaixonado (ou em vias de) tem-se a mais viva e deliciosa sensação de que se entrou numa máquina do tempo, nos levando diretamente para aquela fase da vida onde nem somos maduros o suficiente para admitirmos que ainda somos crianças nem novos o bastante para podermos usar como desculpa não termos noção que ser gente grande exige muito mais do que a gente pode dar conta naquele momento.

E é uma máquina diferente, que funciona de dentro pra fora, vira do avesso, nasce nas entranhas. E tome beijinho, recadinho, olharzinho perdido e lânguido pra o ser amado. E como é bom!

Como aprendi, dito por Moska numa música, é o salto feliz de novo precipício. É, por um instante difícil de ser medido mas naturalmente fugaz (que pode durar uma vida...), jogar fora um pouco da razão, assumir que se tem medo e que se gosta mesmo assim, feito ver filme de suspense. Estar apaixonado é um tipo de "Sexta-feira 13" onde somos o herói, a moça que grita por socorro e Jason, tudo ao mesmo tempo: risco deliciosamente mal calculado. Algo como cair no meio da pororoca com bóia de patinho...

A gente se esquece um pouco da finitude de nós mesmos. De repente, não somos mais tão mortais. Algo que vive em mim e nela pode durar pra sempre! E como essa criatura (a Paixão) depende do seu criador (eu mesmo) para viver, me eternizo, nos eternizamos.

Há sim, o fantasma da impermanência, um certo ar de deja vu, um gosto gostoso familiar com leves notas de lembrança de fel.... Paciência. Tem que ser como o que nos faz todo dias comer pelo prazer do degustar e de trazer para dentro o que precisamos para nos dar energia e vida.

O trem amnético, que nos pega na estação do momento e nos leva para onde sabemos que precisamos ir, mas onde que é mesmo?

Na vida, vivemos muitas coisas. Mas poucas, nenhuma outra, talvez, tenha essa capacidade de se reinventar e nos trazer para o lugar de onde partimos e passamos a vida toda tentando voltar: nós mesmos. Nos vemos no outro, mellhorarmos à vista dele e por causa dele também.

E, o melhor de tudo, é que podemos, desafiando a existência e o próprio Criador, renascermos.

Todos podem. Eu também.

domingo, 24 de maio de 2009

Presente

É meia-noite. O tempo, uma convenção. Mas ele existe. E passa, inexoravelmente. Por ele, como que numa passarela, desfilam dores, amores, alegrias supremas, amigos... Nem bem um minuto atrás era uma menina. Risonha, de cabelo bem curtinho de trela (dela) e doidice (da mãe). Hoje, ladeira abaixo desembestada pra ser mulher. Maravilhosa, ao que tudo indica. E vai ser mesmo.

Em momentos assim esperam-se lampejos de rara sabedoria, pensamentos profundos, algo que possa mostrar orgulhoso e dizer: veja o que ele escreveu pra mim!

Mas acho que não consigo nada disso. Meu ouro é pouquinho, nem 24 quilates o bichinho é, sequer. Mas tudo que tenho é teu. de coração. Então vai algo que consigo, tá bom?

Um dia um homem andando por uma floresta, viu, preso numa folha, um casulo. Lindo, perfeito. E pôs-se a imaginar como a Natureza era maravilhosa e que devia haver, de fato, algum Deus mesmo por aí, um "senhor das esferas", como disse Vinícius, criador de tudo o que existe. 

O casulo, inclusive. Mais do que um simples (não, não é nada simples!) inseto recolhendo-se do mundo para o seu mundo, como quem diz "give me a break, man!", há uma mítica tanto no recolhimento quanto na transformação iminente e inerente, pensou o homem. Cansado de sua existência, não por ser ela rastejante, mas simplesmente porque já era tempo de mudar mesmo (não é sempre assim?), ele prepara-se num perfeito simulacro para encarar uma nova trajetória, abandonando pra sempre o horizontalismo de lagarta. Um tempo certo, o de viver nas folhas, outro, o de recolher-se e mais um, o de voar...

Com todas essas idéias pululando na cabeça, o homem observa o casulo e segue. Dia seguinte, ao passar novamente pela planta-abrigo, decide tocar no casulo. Ele reage! Mas sempre reagimos, mesmo quando tudo e todo juram que estamos mortos, ou em estado letárgico. Ele decide então, levá-lo para casa, estudá-lo mais de perto, assistir a todas as etapas da transformação. 

Ato contínuo, com todo zelo, tira o casulo da folha e leva-o para casa. No entanto, como o tempo certo, as coisas também dependem do lugar certo para ocorrerem a contento. E o casulo parece, ao longo dos dias, não mais evoluir. Ele toca, e nada... Até, que numa noite tresloucada, o homem pensa: preciso desta transformação! Tenho que tê-la dentro de mim! Essa é a grande solução, a saída de mestre. E come o casulo...

Filha, teu tempo de muda chegou. Mas na verdade, ele estava já aí e sempre estará, no momento que você quiser e precisar. Virar a página dos 18 anos é maravilhoso; enxergar tudo o que deu-se de hoje para trás é igualmente lindo como há de ser o que virá. Seja feliz sempre. Seja lagarta, borboleta, o que quiser, mas lembre-se sempre que ser casulo também é importante.  

Serei tua folha. Eternamente. Te amo.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Amando palavras

Poesia não se lê, se vive. Sempre achei isso. 

Li muita, na adolescência. 

Bandeira, Quintana, Vinícius, Neruda... Fizeram-me ver melhor a mim mesmo. Até consegui ver toda a poesia de Kafka, com imensas doses de melancolia implícita e com uma identificação pessoal tremenda - até canceriano era ele também afinal... Mas essa fase passou. A de Kafka, ao menos.

Hoje leio poesia como diletante. Amante declarado das palavras.

Descobri o último poeta por acaso. Fuçando, em busca de algo perdido no passado. Aquele je ne sais quoi, aquela coisa saudosa que nos assoma vez por outra, inda mais mais velho tornamo-nos. 

Leminski.

Delicioso como sorvete de pitanga e chocolate na Bacana de Olinda em dia de muito, muito sol.

Isso de querer
Ser exatamente aquilo
Que a gente é
Ainda vai
Nos levar além.

Nada mais a dizer - nem precisaria, né mesmo?

...

Mas tenho.

A poesia nos rodeia. Mas tanto, tanto, que roda, roda, rodopia e acaba caindo dentro de nós mesmos, em um torvelinho. Nela, tendo "olhos de ver" (como aprendi ontem) achamos segredos insondáveis que - pasmem! - jurávamos que eram nossos apenas, mas que habitaram na cabeça e na alma de outra pessoa. 

Isso nos faz lembrar que fazemos parte de um Todo, que alguns chamam de Deus, outros de "inconsciente coletivo"... 

O que me remete a uma outra observação, a de que não temos absolutamente nada de inédito em nós mesmos, nem ao menos nossos próprios nomes próprios - exceto nos casos onde pais com uma dose extrema de mau gosto e, sinceramente, aparente ou mal compreendido pouco amor pelas próprias crias, as batizam com nomes inventados feito "Turi"... Tudo porque alguém, em algum momento no passado já teve exatamente o mesmo nome que carregamos na carteira e na estampa - já notaram que tem gente que parece não poderia ter outro nome senão aquele mesmo? Gente com cara do nome que tem... Mas isso é mote pra outro post.

Voltando ao poético que vem de fora, sendo de dentro de outro que é e acaba virando nossa própria verdade interna (Confuso? Talvez, mas ao menos pra mim faz todo o sentido...), essa poesia tem muito a ver com a identificação que sentimos quando amamos muito alguém. 

Do nada, aquelas coisas que nos eram personalíssimas, como a sensação que temos ao ver uma obra de arte, de repente ao olharmos para o nosso lado, no objeto de nosso amor - do qual somos também cria e criador - percebemos vibrar na mesma sintonia, reverberar a mesma delicada sensação de prazer e deleite ao permitir-se entrar n'alma o anima do artista. 

Talvez aí more uma pista sobre o amor, do por quê ele nos mexe tanto. Identificação. A poesia brinca com a identificação. Como o amor.

A poesia está em toda parte, mas com absoluta certeza naquelas coisas que nos comovem profundamente, como um vendedor de doces anunciando pela rua, meio cantando meio falando os sabores à venda - certa vez, acompanhei por minutos a fio um desses, literalmente viajando, esqueço nunca...

Ela mora no sorriso de uma filha, nos piscar de luzes dos postes lá longe, vistos da janela de uma apartamento, no mar (visto preferencialmente ao longe, porque o chuá-chuá incessante me causa certa aflição: nunca tem pausa! Tá bom, tá bom, nem combina muito com todo esse papo de poesia essa minha birra com o mar, mas se Caetano pode colocar em letras de músicas sua peitica com quem avança sinais vermelhos, vejo-me perfeitamente habilitado a ter minhas próprias cismas idiossincráticas), no cheiro do mormaço logo depois da chuva, e por aí vai. 

Cada um que pegue seus exemplos. Todos temos. Até acho que haja quem não enxergue "poesia" nessas pequenas coisas que nos tocam, mas creio que ocorra pelo simples fato de não associar "o nome à pessoa".

Essa poesia captada no cotidiano, a que habita fora das páginas, não necessariamente tem que ser coisa de gente introspectiva, não mesmo. Muito embora sendo um representante desta porção incompreendida da humanidade (canceriano, hiperbólico e exagerado, lembrem e perdoem), defenda que fica mais fácil em sê-lo quando dou-me ao luxo e prazer de parar na Rua do Sol, ali entre a ponte da Avenida Guararapes e a Rua Nova e ficar vendo o reluzir do sol n'água do Capibaribe, imaginando ser mar de papeizinhos alumínio dançando freneticamente.

Poesia. 

Pra corroborar tudo que penso e escrevi, socorre-me Tunai:

Certas canções que ouço
Cabem tão dentro de mim
Que perguntar carece
Como não fui eu que fiz?

Certa emoção me alcança
Corta-me a alma sem dor
Certas canções me chegam
Como se fosse o amor

Contos da água e do fogo
Cacos de vidas no chão
Cartas do sonho do povo
E o coração pro cantor
Vida e mais vida ou ferida
Chuva, outono, ou mar
Carvão e giz, abrigo
Gesto molhado no olhar

Calor que invade, arde, queima, encoraja
Amor que invade, arde, carece de cantar


Pois é... Certas cancões são nossas. Como filhos depois de gerados, poesias uma vez escritas, pertencem ao mundo, não mais - nunca mais - ao poeta. 

Como não fui eu que fiz essa mesmo?



quinta-feira, 23 de abril de 2009

Amigos - O longa que deu origem à série

Ah, a amizade em suas mais diferentes formas e matizes... São tantas histórias que decidi fazer uma série dedicada a eles e aos causos que os cercam. E juro que não sei quando vem o 2, mas que virá isto é certo.

Amigos... São tantos. Mas tão poucos ao mesmo tempo. 

Menos do que precisamos e, às vezes, mais do que merecemos. Sim, sim. Temos a nossa porção tratante, que nos faz achar que somos menos merecedores de tanta coisa boa que nos dão, esses amigos maravilhosos.  

Aquela mesmo, a tal porção(zinha, porque a gente no fundo é gente boa, vai...) cínica, que todo mundo nega ter, como nega assistir de vez em quando Sílvio Santos no domingo e pra tentar desfazer a cara de espanto/pânico/nojo geral dos amigos na mesa do bar, quando comenta que viu uma coisa interessante justamente no programa dele, sai com a velha: "É que eu tava passando os canais, juro!". 

Pois bem, voltando ao descaramento, mesmo depois de descaradamente tentar desviar o rumo da prosa, temos sim esses lapsos que fazem-nos sentir as piores das criaturas. 

Você está andando na rua, do nada materializa-se na sua frente uma pessoa que você jura que conhece. E ela jura que você sabe de onde, o nome dela, o da mãe dela, o do gato de estimação, aquele, lembra? Você NÃO lembra. Mas fica ali, com aquela cara de paisagem... E dá-se início a peleja:

- Marcilio, quanto tempo rapaz! Você tá mais magro (permitam-me um pequeno merchandising...)!

- Pois é, rapaz! - Primeiro sintoma: você apela para todas as formas possíveis e decentes de chamar uma pessoa, enquanto apela também a todos os anjos e santos que baixe em você o nome do(a) infeliz...

- Como vai tua mãe? - O cara conhece até minha mãe, meu Deus. É uma pista, é uma pista! Da rua? Do colégio? Irmão de alguma ex-namorada? E nada de baixar nada. 

- Tá indo bem, graças a Deus. E a família - Pô, ele tem que ter uma família, né?

- Tá todo mundo bem também. Minha irmã casou. Lembra do noivo eterno dela? - Não! Nem dela!!! E tome paisagem na cara...

- Que coisa boa...

- Pois é, rapaz. Precisamos nos reencontrar pra relembrar os velhos tempos. 

A esta altura já é oficial: você é um crápula. A pessoa tá na cara que além de saber teu nome, gosta de você - você jura que rola até um misto de carinho com admiração dele em relação a você só pelo olhar da criatura - e que ela está realmente feliz em te reencontrar, mas você fica nessa, "cara" pra lá, "rapaz" pra cá... 

Mas aproxima-se o grande momento. Toda a avenida sambando animada ao ritmo do teu coração que bate mais que surdo em dia de desfile das campeãs. Vem a escola de samba toda chegando pertinho da apoteose, é o momento crítico, a hora da verdade, a tal hora agá:

- Anota aí meu celular. 

Desculpem-me pelo mau jeito, mas é impossível não citar uma historiadora amiga minha nesse momento: Fudeu, fudeu, fudeu! Que diabo de nome você vai colocar na agenda do celular, me diz mesmo?

Esse negócio de celular por si só já deveria nem ter sido inventado, se não por isso no mínimo por ter estragado toda a graça que tinha em marcar de tal hora em tal lugar e a pessoa chegar um pouquinho antes e ficar naquele verdadeiro frisson (pra quem é de Pernambuco vai "torada de aço" mesmo) se ia levar um bolo ou não (e certos bolos nem São Pedro conseguia livrar o infeliz, não adiatava invocar...).

E aí você fica naquela... Perguntar o nome a esta altura do campeonato é demais... Sem chance. Desistir justamente a 3 segundos do soar o gongo do décimo assalto, depois de já estar todo estropiado, mas de pé? Never, nunquinha. O jeito é dar aquela segunda demão de óleo de peroba e caprichar no lustre: 

- Teu sobrenome mesmo? - É tiro e queda! O sujeito cai, você ganha o nome dele - porque ele VAI dizer o primeiro nome - e você sai o mais ileso possível, exceção feita pro caso dele ter sido amigo teu de colégio e na sala tivessem dois ou mais com o mesmo nome dele, porque aí todo mundo conhecia os sobrenomes que distinguiam os xarás. Ou sai morto: e se ele era o teu xará?

Mas tem uma variante desta saia-justa. Não sei se pior - dá pra ser? - quando você está acompanhado de um amigo (esse graças aos deuses você sabe o nome) e encontra aquele amigo lá de cima... 

Situação complicada deveras... Imagina todo o diálogo que descrevi agora com o terrível agravante de que as duas pessoas ficam uma olhando pra cara da outra e pra tua, devidamente envernizada, quase implorando "poxa, me apresenta!". 

Nessa, ou você tira literalmente uma de doido e faz de conta que regrediu aos cinco anos de idade e que o amigo que vinha contigo era imaginário e não apresenta o pobre de jeito nenhum ou apela pra um expediente pouquíssimo ortodoxo, que eu não recomendo a ninguém, mas que uso rotineiramente por falta de imaginação - aceito sugestões, tá?: "ah, vocês que se apresentem aí...".

Tudo bem, você ganha inteiramente de grátis o nome do fulano, mas vem de brinde a nítida impressão pros teus dois amigos que você realmente não lembrava o nome de um deles. 
E como o primeiro sabe que você sabe o dele, fica pensando que isso vai acontecer um dia, mas dessa vez com ele no papel de amigo transeunte...

Esquecimento é uma coisa humana. A gente precisa esquecer mesmo. Pra viver melhor, superar as perdas, por exemplo... Já imaginou se você lembrasse de tudo o que te magoou ao longo da vida? Só a quantidade de "nãos"  que a gente recebe até o segundo ano de vida era material suficiente pro sujeito passar o resto da vida deitado num divã. 

Por isso defendo abertamente o direito inalienável de esquecer as coisas, de vez em quando. Inclusive nomes. E de amigos. Assim como datas de aniversário, datas cívicas e algumas estrofes do hino do Estado natal.

Portanto, meu amados amigos esquecidos, perdoem-me. Todos moram em meu coração e certamente em algum lugar bem escondidinho da minha vasta mente. Pra tentar amenizar a calhordice, vamos considerar então que vocês estão tão bem guardados, mas tão bem guardados mesmo porque são absoluta e inestimavelmente preciosos. 

Aí, sabe como é, né? Como meu pai sempre disse, dentro de casa não é perdido e amigos são as portas, as janelas e em alguns casos, aquelas meias perdidas na casa da nossa alma.

terça-feira, 21 de abril de 2009

Sobe!

Cena:
Você entra no elevador. Ninguém dentro, ufa! Aperta seu andar, a porta fecha. Lá pelo meio do caminho, sobe um infeliz, dois andares depois mais 3 e, horror dos horrores, uma última parada antes do seu andar entra mais uma... Paciência. Foi-se embora o feudo urbano. Antes o que era seu, só seu, torna-se praticamente um assentamento, sem direito a reintegração de posse!

Instaura-se o moderno suplício de compartilhar o que chamo de "maior menor espaço do mundo". Maior porque inacreditavelmente, para um espaço tão exíguo é espantoso como cada pessoa que adentra o recinto consegue olhar para um canto distinto, fazendo de tudo para não encarar quem está ali, bem do ladinho. E haja parede, teto, chão pra tanto olhar perdido, mas compenetrado... Maldade das maldades é quando o bendito tem espelhos... Deviam proibir espelhos em elevadores, ora! Eles acabam forçando aquela troca de olhares inadvertida e indesejada (tá bom, vá lá... até que às vezes uma olhadela "naquela" figura não cai tão mal assim, né?).

A gente fica olhando os números passarem como se fossem uma contagem regressiva pra sair correndo dali. E olha que correndo não é nenhum exagero. Na média, os tais andam a 4,5km/h, que pode até parecer pouco, mas pra quem tá acostumado a caminhar sabe que é velocidade suficiente pra se livrar daquele mala que tá andando lado a lado com a gente no calçadão. Basta apressar o passo e, priu! o tal fulano já ficou pra trás. Só que não dá pra correr em bloco, nem se distanciar dos retardatários num lugar onde todo mundo anda junto, meio boiada atravessando rio...

Minha filha mora no último andar do prédio dela. Bichinha... Tem que aguentar mesmo. É a angústia suprema. Sempre a última a descer, e tome ouvir histórias, ver gente esquisita, sentir perfume forte...

Atire a primeira pedra, ai ai ai, aquele que nunca sentiu-se assim, incomodado. Espaço vital? Vai pro beleléu. E ainda tem gente querendo fazer elevador pro espaco! Já imaginou? Se alguns andares já mostram o quanto podemos ser intolerantes ao contato humano forçado, pense só que podem ser quilômetros e quilômetros para o alto e avante...

E as gentes também fazem graça até com isso. Aí vai a contribuição de um amigo, Valois, que conta que um procurador do estado diz que o problema mesmo é o "monstro do fosso do elevador", carinhosamente conhecido como "O Mesmo", tudo por conta da bendita frase que é estampada na botoeira - eu sei, soa terrível, mas é o nome técnico da coisa de chamar o danado, tenho culpa nenhuma - "Antes de entrar no elevador, verifique se 'O Mesmo' encontra-se parado neste andar". Sinistro!

Lembrei-me agora de um filme ultra-trash no qual o protagonista que aterroriza os incautos é ninguém menos que - adivinha? - o elevador. O nome da pérola é "Elevador Assassino". Deve ter feito muito sucesso, pois a versão original é holandesa de 1983 e ainda ganhou uma refilmagem americana em 2001. Coisas de Corujão...

Bobagens à parte, fica a dúvida. Se a gente se incomoda tanto assim, por tão pouco, e olhe que não tem nada a ver com claustrofobia ( a coisa tá mais pra medo de gente mesmo), porque afinal de contas simplesmente não tomamos as escadas? Afinal, como aprendi num prédio conhecido aqui do Recife, mais precisamente no Recife Antigo, ali, de cara pro Marco Zero, postado na porta de cada andar os singelos dizeres: "Para subir um ou descer dois andares, use as escadas. É salutar."

Elis Graves Otis, o americano (tinha que ser...) que inventou o elevador de passageiros que me perdoe: esse negócio de andar em caixas só pra sapatos.

PS: Moro hoje no sétimo andar. E vou sempre de elevador. "Salutar" um chico!


Pensando...

"Você pensa demais!"
"Você é muito passional: age sem pensar!"
"Você é um cara muito inteligente, só não foca as coisas certas."

Bem... 

Acredite ou não, já ouvi as 3 coisas. E fiquei pensando, pensando...

No final, cheguei a seguinte conclusão (e essa vou tomar emprestado de Lula Queiroga):

Tenho juízo mas não uso. E priu!

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Coisa de( ou da ) Pessoa

Trata-se de uma carta datada de 29/11/1920, de Fernando Pessoa a um amor que acabou. Ou ao menos que não quis ou pode permanecer vivo. Carta dura e triste, como é o amor quando acaba. Ou quando é morto...

Ophelinha:

Agradeço a sua carta. Ella trouxe-me pena e allivio ao mesmo tempo. Pena, porque estas cousas fazem sempre pena; allivio, porque, na verdade, a unica solução é essa - o não prolongarmos mais uma situação que não tem já a justificação do amor, nem de uma parte nem de outra. Da minha, ao menos, fica uma estima profunda, uma amisade inalteravel. Não me nega a Ophelinha outro tanto, não é verdade?

Nem a Ophelinha, nem eu, temos culpa nisto. Só o Destino terá culpa, se o Destino fosse gente, a quem culpas se attribuissem.

O Tempo, que envelhece as faces e os cabellos, envelhece tambem, mas mais depressa ainda, as affeições violentas. A maioria da gente, porque é estupida, consegue não dar por isso, e julga que ainda ama porque contrahiu o habito de se sentir a amar. Se assim não fosse, naão havia gente feliz no mundo. As creaturas superiores, porém, são privadas da possibilidade d’essa illusão, porque nem podem crer que o amor dure, nem, quando o sentem acabado, se enganam tomando por elle a estima, ou a gratidão, que elle deixou.

Estas cousas fazem soffrer, mas o soffrimento passa. Se a vida, que é tudo, passa por fim, como não hão de passar o amor e a dor, e todas as mais cousas, que não são mais que partes da vida?

Na sua carta é injusta para commigo, mas comprehendo e desculpo; decerto a escreveu com irritação, talvez mesmo com magua, mas a maioria da gente - homens ou mulheres - escreveria, no seu caso, num tom ainda mais acerbo, e em termos ainda mais injustos. Mas a Ophelinha tem um feitio optimo, e mesmo a sua irritação não consegue ter maldade. Quando casar, se não tiver a felicidade que merece, por certo que não será sua a culpa.

Quanto a mim…

O amor passou. Mas conservo-lhe uma affeição inalteravel, e não esquecerei nunca - nunca, creia - nem a sua figurinha engraçada e os seus modos de pequeneina, nem a sua ternura, a sua dedicação, a sua indole amoravel. Pode ser que me engane, e que estas qualidades, que lhe attribúo, fossem uma illusão minha; mas nem creio que fossem, nem, a terem sido, seria desprimor para mim que lh’as attribuisse.

Não sei o que quer que lhe devolva - cartas ou que mais. Eu preferia não lhe devolver nada, e conservar as suas cartinhas como memoria viva de uma passado morto, como todos os passados; como alguma cousa de commovedor numa vida, como a minha, em que o progresso nos annos é par do progresso na infelicidade e na desillusão.

Peço que não faça como a gente vulgar, que é sempre reles; que não me volte a cara quando passe por si, nem tenha de mim uma recordação em que entre o rancor. Fiquemos, um perante o outro, como dois conhecidos desde a infancia, que se amaram um pouco quando meninos, e, embora na vida adulta sigam outras affeições e outros caminhos, conservam sempre, num escaninho da alma, a memoria profunda do seu amor antigo e inutil

Que isto de “outras affeições” e de “outros caminhos” é consigo, Ophelinha, e não commigo. O meu destino pertence a outra Lei, de cuja existencia a Ophelinha nem sabe, e está subordinado cada vez mais á obediência a Mestres que não permittem nem perdoam.

Não é necessario que comprehenda isto. Basta que me conserve com carinho na sua lembrança, como eu, inalteravelmente, a conservarei na minha.

Fernando

domingo, 12 de abril de 2009

O molho e o chaveiro

Vez por outra nos pegamos tentando descobrir o que pesa mais: o molho de chaves ou o chaveiro.
Se nunca fez, faça. Nas coisas mínimas, insuspeitas, residem belas respostas.
O que carregamos tem peso, ora mais leve, ora não. Mas é o que nos faz e dá forma. Leituras, filmes, conversas... Tudo agrega e enleva o espírito. Tudo em nome da enorme busca, mesmo desapercebida.
Ligar a TV ou o sonzinho de casa é mais que um gesto automático e automatizante. E damos tão pouca atenção a isto... Por qual razão? Não sei ao certo.
É a mesma coisa sair à noite. Buscar olhos, bocas, salivas, fluidos corporais ou simplesmente contemplação solitária e solidária.
Dançar, esbarrar de propósito ou não nas pessoas, caminhar em linha reta, sentar ou só ouvir o burburinho da noite (porque à noite é melhor, convenhamos...).
"Alisar porcos-espinho", "fotograficaminhar", "pensares que pensam".
Modos de ver e ser.

...

Ouvir um cara vendendo doce japonês e acompanhá-lo, engolir casulos, procurar satélites artificiais nos céus, olhar para o nada, beber e fumar e ouvir músicas tentando entrar no espírito primal do foi pensado pelo compositor, sentir o ardor dos arranhões nas costas no banho ou o frio do chão nos pés ou os pés em chamas... Experiências únicas, pessoais, que nos fazem sentir vivos. Cada um em sua loucura sã. "De perto, ninguém é normal"...

...

Há as coisas certas, as erradas, as que fazemos e, as agora vejo claramente, as que queremos. Estas transcendem todos os preceitos morais e éticos. Residem unicamente na vontade humana e esta sempre há de falar mais alto que todos os alto-falantes e batuques de maracatus rurais ou de baque virado. A música que rege a cada um, Freud que me desculpe, embala nossa dança e passos ágeis pelas ladeiras da nossa vida.
Sobra compreensão, sim, é certo. Mas carece vontade de aceitação.

...

Danço comigo a música que mesmo componho. E danço bem, modéstia à parte.

...

Dizem-me: "Escreva sobre algo que te toque a alma. Defina uma linha. Porque não sobre música?". Não sei ainda. Vou saber. E escrever. Até lá, paciência, peço-vos. Esfregam-me na cara um dom do qual duvido, mas para o qual vejo-me apto e sedento. Que venha, então. A todo o momento, de vez em quando, depois de duas cervejas e uma dobradinha, no trânsito, na contemplação. Vem. Vejo. Ouço e sinto e sairão. Tomara que alguém leia. E comente. Vai ser bom. Vai que alguém se identifica? Afinal, somos todos humanos e ineditamente iguais. E moramos todos no planeta Terra, né Cecil?

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Tudo isso não é nada

O amor existe. 
Acreditem, eu sei. Não me disseram nem li num jornal. Vi de perto. Vejo. Ele pulsa, ferve, acolhe, acalma... 
Enebria. Ele não é mensurável. Não cabem termos como "demais", "pra sempre" ou "loucamente". 
Ama-se. Assim, simplesmente. 
Não é um estado que comporta meio-termo. Na verdade, ele sequer é um estado ou condição. Ele É. Assim, como o "d" de Deus, maiúsculo. 
Tudo, igualmente, inicia-se e encerra-se nele. 
"É fogo que arde sem se ver". Mas que calcina o coração, porque é o preço que ele pede: para amar-se é preciso estar disposto a arder em suas chamas, até não poder mais, até transformar carne e ossos em além-pó. 
Ele traduz a essência das coisas; nele todas respostas habitam e tudo faz sentido. Em contrapartida, fora dele todas as grandes questões da Humanidade tornam-se meras curiosidades, páginas de almanaque. 
Ele, quando chega, marca. Não tem jeito. Fica. Tauta pele, músculos, ossos. 
Não sai. 
Pro bem e pro mal, não sai. 
Vivo um desses hoje. A este amor sou grato por toda a vida. Ele me arrebatou, me fez melhor e melhorou como me vejo; me fez mudar o rumo e a maneira como percebo as coisas e as pessoas. Ele é muito isso: seu caráter transformador traz em si o signo das mudanças. Assim, ele é a mais pura tradução da Era de Aquário, era de mudanças.
Cada pessoa, um universo. Quando vem trazido e traduzido pelo alinhamentos dos planetas, representa uma nova Era. 
Em nossas vidas, porém, só cabe um. 
O Amor. 
Vivem-se dele projetos ou projeções. Mas Ele é único. Sem antes nem depois. 
A quem nunca viveu o seu ainda, garanto: não desista, pois ele virá. 
Como sonhamos, perfeito para nós, em algum tempo ou lugar, provavelmente os mais inesperados. 
Sublime, belo, completo em si. 
Decidi revelá-lo ao mundo pois não cabe há muito em mim a dor de não poder fazê-lo. Trato-o agora como uma boa nova. Tem que ser espalhada, temos que testemunhá-la, para ajudar outras pessoas a se não mudar, no mínimo pensar "nossa, se até ele fala, deve ter alguma verdade...".
Sorte de quem o encontra. Mais sorte ainda de quem o consegue fazê-lo seu cotidiano, tendo sua outra parte sua. Afinal, descobrir-se ser apenas metade de alguém é difícil demais para assimilar...
Tenho amor. 
Não tenho sorte.