domingo, 12 de abril de 2009

O molho e o chaveiro

Vez por outra nos pegamos tentando descobrir o que pesa mais: o molho de chaves ou o chaveiro.
Se nunca fez, faça. Nas coisas mínimas, insuspeitas, residem belas respostas.
O que carregamos tem peso, ora mais leve, ora não. Mas é o que nos faz e dá forma. Leituras, filmes, conversas... Tudo agrega e enleva o espírito. Tudo em nome da enorme busca, mesmo desapercebida.
Ligar a TV ou o sonzinho de casa é mais que um gesto automático e automatizante. E damos tão pouca atenção a isto... Por qual razão? Não sei ao certo.
É a mesma coisa sair à noite. Buscar olhos, bocas, salivas, fluidos corporais ou simplesmente contemplação solitária e solidária.
Dançar, esbarrar de propósito ou não nas pessoas, caminhar em linha reta, sentar ou só ouvir o burburinho da noite (porque à noite é melhor, convenhamos...).
"Alisar porcos-espinho", "fotograficaminhar", "pensares que pensam".
Modos de ver e ser.

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Ouvir um cara vendendo doce japonês e acompanhá-lo, engolir casulos, procurar satélites artificiais nos céus, olhar para o nada, beber e fumar e ouvir músicas tentando entrar no espírito primal do foi pensado pelo compositor, sentir o ardor dos arranhões nas costas no banho ou o frio do chão nos pés ou os pés em chamas... Experiências únicas, pessoais, que nos fazem sentir vivos. Cada um em sua loucura sã. "De perto, ninguém é normal"...

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Há as coisas certas, as erradas, as que fazemos e, as agora vejo claramente, as que queremos. Estas transcendem todos os preceitos morais e éticos. Residem unicamente na vontade humana e esta sempre há de falar mais alto que todos os alto-falantes e batuques de maracatus rurais ou de baque virado. A música que rege a cada um, Freud que me desculpe, embala nossa dança e passos ágeis pelas ladeiras da nossa vida.
Sobra compreensão, sim, é certo. Mas carece vontade de aceitação.

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Danço comigo a música que mesmo componho. E danço bem, modéstia à parte.

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Dizem-me: "Escreva sobre algo que te toque a alma. Defina uma linha. Porque não sobre música?". Não sei ainda. Vou saber. E escrever. Até lá, paciência, peço-vos. Esfregam-me na cara um dom do qual duvido, mas para o qual vejo-me apto e sedento. Que venha, então. A todo o momento, de vez em quando, depois de duas cervejas e uma dobradinha, no trânsito, na contemplação. Vem. Vejo. Ouço e sinto e sairão. Tomara que alguém leia. E comente. Vai ser bom. Vai que alguém se identifica? Afinal, somos todos humanos e ineditamente iguais. E moramos todos no planeta Terra, né Cecil?

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