domingo, 1 de junho de 2008

Considerações sobre o belo e o espírito das palavras

O que é belo o é em si? Consegue encerrar, ser começo-meio-fim prescindindo de ver-se avaliado? Ou necessita do outro, da visão do outro para tornar-se belo, no sentido amplo? Uma escultura de Gauguin, um quadro de Dali ou uma flor são intrinsecamente belos, é sabido. Mas o que os torna de fato, ao meu ver, belos são nossos olhos, como os vemos. De que adianta o belo esmerar-se em encantar e seduzir se ele não consegue ser um objeto de adoração? O que é o bonito sem o "ver o bonito"?
Essa coisa da beleza me persegue há anos. Sempre busquei um belo, mas essa busca quase insana por um esteticamente irretocável me fez deixar de ver as minúcias das quais as coisas belas alimentam-se. No fundo, tudo pode ser belo; basta um olhar sob o ângulo preciso, com a luz - essa maldita luz - apropriada e tem-se a beleza capturada e pronta para assimilação em e de sua plenitude. Mas esta expressão imagética que se imprime na retina, vira sinal a percorrer o nervo óptico até o cérebro que nos faz ver que "ela é tão bonita que na certa a ressussitarão" consegue de fato ter todo esse poder? Essa re-gênese do belo e fez começar a escrever estas coisas agora: uma imagem arquivada na cabeça que, ao simples ato de ser rememorada, consegue ter a força de mil mares tomados de fúrias assassinas, agitados pelo signo das intempéres e dos furacões.
De certa forma, pensando por este lado, de que me vale ter o mais belo em mim se não é visto, admirado, brincado de encanta-moça? E que belo seria esse? Talvez para expressá-lo fosse necessário buscar na etimologia da palavra definitiva nascida da língua criada ao se fundar uma Nova Germânia, onde se possam unir palavras sem-número para conseguir sintetizar um sentimento, porque talvez as palavras que existam não sejam suficientes para tal.
Enfim, o belo em mim e fora de mim - pelo mundo, entre salares e asfalto orvalhado - precisa de mim, precisa de ti para ser mais belo, no mínimo. Sem esta chance, o que é belo torna-se apenas... belo! De que serventia tem o belo em si? O belo quer ser belo-belo, quero-quero (ah, se quero...): Vida noves fora zero, né Bandeira?

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