quarta-feira, 11 de junho de 2008

O Grande Exército

E assim, pouco a pouco foram juntando-se as hordas. Vindas de tribos distantes, outras nem tanto. Quase todas falavam a mesma língua, muito embora algumas praticavam ritos estranhos, pois mal falavam e comunicavam-se quase que exclusivamente através daqueles. Umas poucas, essas vindas de terras realmente longínquas, falavam uma espécie, cada qual a sua, de dialeto que só conseguiam ser compreendidas entre os seus, dificultando sobremaneira a integração ao Grande Exército. Com relação aos costumes, estes então dir-se-ião ainda mais diverso e multifacetado. Mas de forma quase que milagrosa, todas as diversas hordas conseguiam, ao seu modo bem peculiar, unir-se em torno e em direção do que se convencionou, após várias e várias batalhas como o Fim.
Vez por outra, é bem verdade, surgiam aqui e acolá pontos de insurgência, pequenos motins, mas que normalmente eram debelados, ante à força opressiva da maioria. O que ocorria, de maneira quase que reiterada era durante a Grande Marcha divergências ferrenhas, muito violentas, quase destrutivas – quando não o eram enfim, em última instância... – e que obrigavam as hordas a mudarem suas estratégias, reagruparem-se e por fim, mudar o curso, sem no entanto – e isto é a parte mais intrigante quando analiza-se o Grande Exército – alterar-se o Fim...
Volte e meia, algumas tribos mandavam novas hordas para substituírem as que as representavam, por motivo que só mesmo eles poderiam explicar ou entender. O fato é que esta alteração invariavelmente conseguia dar novos ares ao Grande Exército, mas após algum tempo, como haveria de ser, tudo voltava a ser igual a como era antes: o frescor nada mais era que passageiro. Mas nem por isso, menos necessário. Grupamentos destacados dentro das fileiras do Exército tinham representantes que comandavam as discussões, lideravam enfim. Mas com uma característica bastante interessante de serem formados de modo transgrupal.
Quanto às táticas de guerra, o Grande Exército não diferia dos demais exércitos. Sua principal estratagema era a da terra arrasada: tomavam de assalto o vilarejo, possuiam todas as mulheres, consumiam todos os mantimentos disponíveis e, ato contínuo, após fartarem-se de tudo o quanto fosse humanamente possível, partiam em busca de novas paragens, não sem contudo atear fogo em toda a vila, de modo que nada mais pudesse ser aproveitado ou cultivado; nada restava salvo sal e cinzas.
Mas tamanha força era ao mesmo tempo uma das grandes fraquezas do Exército, pois devido ao seu tamanho, arcava com o ônus deste gigantismo auto-imposto prestava-lhe o enorme desfavor de fazê-lo crer ser indestrutível. Como isso nunca era verdade, as baixas invariavelmente tendiam a ser proporcionais ao seu tamanho. Por vezes até, julgava-se que ele iria implodir por assim dizer, simplesmente deixar de existir. Mas talvez esse fosse o grande trunfo dele, ou seja, o de fazer com que todos pensassem que de tão combalido não teria outra alternativa que não dispersar suas fileiras: eis que surgia sempre e sempre, renovado, diferente mas igual.
Pergunta-se sempre qual foi o fim do Grande Exército, se ele teria atingido o Fim, conclusa a Grande Marcha. Não se sabe... Ele simplesmente desapareceu em algum lugar do tempo, alhures. Apenas sabe-se de sua existência pelas marcas deixadas ao longo do caminho e da história. Ele sempre será venerado, conhecido por vários nomes, dentre os mais conhecidos Amor, bem como sua Marcha a Vida. E o Fim? Ah, o Fim... Este parece ser um desconhecido e impronunciável nome feminino...

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